terça-feira, 19 de abril de 2011

'O choro do violino'

De olhos mergulhados no livro que ando a ler e de alma ali esquecida, fui hoje subitamente interrompida no metro. Hoje não foi o cheiro nauseabundo de alguém nem a monocórdica ladainha daqueles que pedem porque nada têm. Não foi isso que me despertou. Foi o choro de um violino, gasto, velho, cansado. Cansado, mas orgulhoso dos sons que canta e dos olhares de admiração, poucos, que o contemplam.
Marquei a página, pousei o livro e concedi-me minutos de entrega. Triste melodia, ora gritante ora murmurante. Roubou-me um sorriso e uma lágrima.
As mãos que o tocavam eram mãos vividas, cheias. Cheias de anos, de dor, de labor. Olhos agradecidos. Podiam ser altivos, mas eram expectantes, olhos que roçam o desespero. Olhos que sorriram com o meu sorriso, olhos que se iluminaram com a minha lágrima. Olhos que vazam a sua música, por aí, como uma dádiva. Dádiva que poucos sentem. Dádiva que muitos ignoram.
Esses minutos deram um especial significado ao meu dia. Obrigado.
Eunice Guerreiro

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