quarta-feira, 4 de maio de 2011

Não nasci da barriga da mamã. Então de onde venho?

Conforme tinha comunicado, estivemos a preparar uma história para ser oferecida a um menino muito especial, um menino que nasceu de um sonho. Leiam-na e, como o Gabriel, sintam a espuminha do mar, oiçam as ondas e saltitem na água. Uma história que cheira a Verão e que tem o delicioso sabor do amor de mãe.

 
Estava uma manhã de céu azul como tantas outras manhãs do mês de Julho; ouviam-se os pardais cantar poisados na palmeira do jardim, como tantas vezes acontecia; seria um dia de praia para o Gabriel e para o seu irmão Ricardo, como tantos outros dias daquele e de outros Verões. Mas algo de diferente havia naquele dia para o Gabriel: acordara com uma pergunta a espreitar na sua cabecita de 5 anos. Soubera há 2 semanas que a mamã tinha um bebé na barriga e ficara muito contente por ir ter novamente, um mano ou uma mana. O seu irmão Ricardo tinha agora 2 anos e ele ainda se lembra da alegria de o visitar pela primeira vez na maternidade. Tinha sentido muito orgulho em passar a ser ‘o irmão mais velho’. Teria para sempre esse cargo de grande importância: ser o mais velho, aquele que sabe mais, que faz mais coisas, que ensina brincadeiras e truques. Lembra-se de ver a mamã com uma grande barriga e de pôr a mão para sentir o bebé a mexer. Agora tudo isso, tão maravilhoso, iria repetir-se e o Gabriel estava contente.
Contente, mas com uma pergunta muito importante para fazer. Decidiu fazê-la de repente, quando estava já na praia, sozinho com a mamã a fazer um castelo à beira-mar. O Ricardo estava um pouco mais afastado, a fazer uma grande poça de água com a ajuda do papá. A pergunta correu da cabeça para a boca, hesitou um pouco quando chegou à língua e, finalmente, saiu: ‘Mamã, se eu não vim da tua barriga, de onde vim?’ A mamã sorriu e, limpando-lhe carinhosamente a areia do nariz redondinho do filho, respondeu: ‘Meu amor, como sempre te dissemos, foste adoptado.’
‘Sim, mamã, isso eu já sei. Mas como? De onde vim? Há alguma parte do corpo que faz os meninos adoptados? O mano foi feito na barriga; agora tens aí outro bebé a crescer. E eu? Vim dos braços, das pernas, das tuas mãos?...’ perguntava o Gabriel, cheio de curiosidade.
‘Filhote, começaste por nascer de um sonho. Um sonho de muitas cores que a mamã e o papá tiveram numa noite em que o céu estava cheio de estrelinhas. Nessa noite, sonhámos com uma criança rechonchuda, linda, saudável e muito meiga que iria ser o meu filho. Depois, todos os dias pensava em ti, imaginava como seriam os teus olhos, as tuas mãos pequeninas, a cor do teu cabelo. Fechava os olhos e quase sentia a tua macia pele de bebé e o teu doce cheirinho. Começámos a comprar as tuas roupas, a decorar as paredes do teu quarto e foi nessa altura que a mamã te comprou o Tobias, o coelhinho de tecido com que ainda hoje dormes.’
O Gabriel ouvia a mãe com atenção, esperando vir a saber a resposta à sua pergunta.
‘Soubemos depois que uma senhora tinha tido um menino e que esse menino era aquele com que tínhamos sonhado. Essa senhora teve o menino, mas não pôde ficar com ele, pois não tinha condições para lhe dar de comer, para lhe dar um quartinho quentinho, bonito e cheio de brinquedos ou sequer de lhe dar todo o amor que essa criança precisava e merecia. Como este era o menino dos nossos sonhos, fomos buscá-lo. Meu amor, no dia em que eu e o papá te fomos buscar, foi para nós o dia em que nasceste. Foi o dia em que o meu sonho de ser tua mãe se tornou realidade. Senti-me a pessoa mais feliz do mundo.’
‘Então, nasci da barriga como os outros bebés?’
‘Da senhora que te teve, a tua mãe biológica, sim. Chama-se ‘mãe biológica’ à pessoa que te teve dentro da barriga durante 9 meses e que depois te pôs no mundo. Mas, de mim, a tua mãe, nasceste dos sonhos, do coração. Todo o meu corpo te teve. Os meus braços embalaram-te para te adormecer, a minha boca cantou para ti, os meus lábios deram-te muitos beijinhos, os meus olhos admiraram-te horas seguidas, as minhas costas levaram-te às cavalitas, o meu colo aninhou-te centenas de vezes, o meu ombro recebeu-te para choramingares, as minhas pernas brincaram contigo ao cavalinho, os meus pés jogaram contigo à bola… De mim, a tua mãe, nasceste do corpo todo e não apenas da barriga.’
O Gabriel mexia na areia com as mãos enquanto olhava os olhos da mãe, que se enchiam de lágrimas à medida que falava. ‘Estás triste, mamã?’
‘Não, filho, estas são lágrimas de alegria. Sinto-me feliz quando me lembro do dia em que te vi pela primeira vez, do dia em que te peguei no colo e logo encostaste a tua cabecita a mim…’
‘Mamã, a senhora que teve o menino, a minha… mãe bio…. quê?’
‘Biológica.’
‘Pois, isso. Essa minha mãe não ficou comigo porque eu era feio? Ou zangou-se comigo porque me portei mal e por isso não me quis?’ perguntou o Gabriel observando as ondas do mar que deixavam uma espuminha branca na areia.
‘Não, querido, nada disso. Tu eras o menino mais lindo do mundo e eras meigo, calmo e muito brincalhão. A tua mãe biológica não pôde ficar contigo porque não te podia comprar roupa, comida ou pôr na escola. Mas tratou muito bem de ti enquanto estiveste dentro da barriga. Foi sempre ao médico e fez todos os exames para ter a certeza que estavas bem. Depois de nasceres, quis ter a certeza que podias ter uma vida boa, numa família que te amasse muito como nós. Tiveste a sorte de ter duas mães que te amam e isso torna-te um menino muito especial.’
O Gabriel levantou-se de repente, com um grande sorriso desenhado no rosto. Correu para o pai e para o irmão e, saltitando na poça de água, gritou: ‘Nasci de um sonho. Sou especial!...’

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